Feedback na educação médica
Feedback pode ser conceituado como um processo de informação e reação, tal qual um circuito ou um ciclo. Mais especificamente, trata-se de uma informação fornecida sobre a performance do indivíduo observado, comparando-o a um modelo (“standard”), com a real intenção de melhorar o desempenho daquele indivíduo.
No mundo do aprendizado, especialmente no ensino médico, o aluno é pouco provido de feedback. Em muitas situações, portanto, cabe ao aluno fazer a própria interpretação do seu desenvolvimento. O que pode ser um problema pois, sem feedback, os alunos não têm consciência acerca do conteúdo específico em que devem investir mais seu tempo ou, ainda, não podem saber o que já conseguem fazer bem feito para que possam repetir o comportamento ou as atitudes adotadas.
Recentemente, publiquei um artigo na Revista da Associação Médica Brasileira sobre o tema (referência e link ao final do texto). Poderia dizer que este assunto despertou meu interesse devido à minha área de atuação (endocrinologia), que é repleta de feedbacks hormonais, a natureza em seu processo regulatório perfeito. Mas, na realidade, a motivação veio de uma reflexão pessoal do meu próprio processo de aprendizagem e seus modelos de feedback muitos mais complicados e ruidosos, por dependerem de relações humanas. Agora, com um nível maior de maturidade, posso enxergar quantas oportunidades de ensino foram perdidas durante minha época de graduação (especialmente) e residência. O ensino médico, particularmente, é repleto de oportunidades de feedback durante inúmeras atividades práticas, mas isso vale também para outros cursos da saúde e também para outras áreas que exijam habilidades práticas e/ou interpessoais. E para além dessa esfera, podemos extrapolar o hábito de buscar feedback ao longo de toda vida, procurando sempre um refinamento na nossa maneira de agir e pensar.
Ainda na graduação, ambientes competitivos e possibilidades de feedback pouco explícitas não permitiram a minha procura espontânea por desenvolvimento pessoal. Consigo perceber hoje que eu não tinha a iniciativa de procurar opinião dos pares e, menos ainda, dos professores, a respeito de competências necessárias para formação médica, por medo de receber uma avaliação negativa. Acredito que uma boa parte dos estudantes ainda tenham esse comportamento, pois lhes falta maturidade para saber o que é necessário para seu crescimento pessoal e profissional, salvo raras exceções. Cabe ao educador promover um ambiente adequado e estimular oportunidades para o fornecimento de feedback para além da avaliação tradicional. Mas entendo que este movimento também exige formação e intenção por parte do educador, que muitas vezes não está preparado para isso, ou então não se sente realizado exercendo tal tarefa.
Quando faço um exercício de recordar as situações de feedback mais marcantes na minha formação, infelizmente são poucas as memórias. Lembro de alguns elogios (genuínos?), quase nenhum feedback efetivamente construtivo e até algumas tentativas desastrosas de feedback, que por sorte não interferiram negativamente no meu caminho profissional. Hoje, ocupando uma posição intermediária entre aluno e professor, com o mestrado recém concluído e experiência em preceptoria de atividades práticas junto a um serviço de residência, vejo que é realmente muito difícil criar condições favoráveis para o fornecimento de feedback. Mas acredito que o estudo do tema e um movimento, principalmente por parte dos docentes, para se aprofundar e se aperfeiçoar na tarefa de fornecer feedback continuamente ao longo da formação do aluno, é o caminho para trazer melhorias neste campo do processo de ensino médico.
Referências
Eidt LB. Feedback in medical education: beyond the traditional evaluation. Rev Assoc Med Bras (1992). 2023. Na íntegra em : https://doi.org/10.1590/1806-9282.20221086
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