Nódulos de Tireoide
Nódulos de tireoide, apesar de na sua maioria serem benignos, podem deixar uma pessoa bastante ansiosa. Saber que se tem um nódulo, em qualquer local/órgão, gera uma angústia imediata e o desejo de retirar o que não deveria estar ali. Mas quando se trata de nódulos de tireoide, posso dizer que temos muita cautela antes de tomar a decisão de “tirar”. Na verdade, temos muita cautela antes mesmo de decidir se devemos ou não investigar um nódulo de tireoide naquele paciente. Não é à toa que a ultrassonografia, o melhor exame para visualização de nódulos de tireoide, não é um exame indicado rotineiramente (ou “de rotina”) para rastreio de nódulos, assim como vemos bem aplicado para outros exames de prevenção, como a colonoscopia, por exemplo.
Uma vez encontrado o nódulo de tireoide, com base nas características da ultrassonografia e dados clínicos do paciente, se define se ele será direcionado para punção aspirativa por agulha fina/biópsia ou se seguirá apenas em acompanhamento clínico e ultrassonográfico. Parece algo simples. E aqui abro parênteses. Eu sou da opinião que não devemos complicar um tema que é simples a fim de torná-lo patrimônio de superespecialistas. Muitas doenças da endocrinologia, por serem muito prevalentes, acabam sendo alvo de interesse de muitos. E quanto mais o conhecimento é difundido, mais as pessoas têm a chance de entrar em contato com determinado tema e entendê-lo, o que é maravilhoso. No entanto, corre-se o risco de cair na armadilha da superconfiança, que faz o indivíduo pensar que com um conhecimento mínimo do tema ele já o domina totalmente. Um estudo mais aprofundado sobre (quase) qualquer tópico na medicina leva a pessoa a entender que ainda resta muita incerteza sobre o assunto. O papel do médico está em juntar a história clínica, resultados de exames, preferências e contexto do paciente para tomar determinada decisão. E pra isso é necessário bastante treinamento. Fecha parênteses.
A borboleta é uma representação da tireoide Photo by Jian Xhin on Unsplash |
Voltando à ultrassonografia. Quando realizada por um radiologista bem treinado e experiente, ela pode nos dar muitas informações e ser bastante decisiva sobre a necessidade ou não de biópsia. Do contrário, se feita por um profissional que não tem o adequado treinamento e expertise, ela pode mais atrapalhar e confundir do que ajudar. É como dar um livro complexo para alguém que está aprendendo a ler; talvez alguma informação seja tirada dali, mas provavelmente a interpretação do texto não será tão precisa. Se você já leu algum laudo de ultrassonografia de tireoide, possivelmente lhe chamou a atenção que a descrição dos nódulos agora vem acompanhada da classificação de TIRADS, abreviação para “Thyroid Imaging Reporting and Data Systems”, mais comumente o ACR-TIRADS, publicado pelo colégio americano de radiologia em 2017. Essa classificação se baseia em uma pontuação, e quanto mais alta a pontuação, maior o risco de malignidade daquele nódulo. O ACR-TIRADS tem se mostrado um bom sistema para seleção de nódulos para punção. No entanto, de novo faço a ressalva que ele deve ser interpretado por um radiologista habilitado, e este profissional geralmente vai ser sugerido pelo seu endocrinologista.
Portanto, são vários os fatores que influenciam o raciocínio do médico para a interpretação adequada de quem deve fazer a ultrassonografia de tireoide, do seu resultado e da conduta a ser tomada a partir disso.
Se a alguém interessar, minha dissertação de mestrado foi sobre nódulos de tireoide. O artigo fruto do trabalho está publicado em revista internacional (link do artigo nas referências abaixo – necessita assinatura da revista) e a dissertação completa está no diretório da Universidade Federal de Ciências da Saúde (UFCSPA) – link também nas referências abaixo, este de acesso aberto.
Referências
Acesso ao texto completo dissertação
Dra.a tireoide precisa de selenio, zinco e outros pra funcionar bem e maioria dos endocrinos não ensina isso.
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