Exercícios físicos são realmente uma recomendação universal ?

Será que exercício físico é para todo mundo ? Pode parecer muito estranho uma endocrinologista que levante esse questionamento. Portanto, começo essa reflexão já afirmando, pra ficar bem claro, que eu não sou contra exercícios físicos. Muito pelo contrário, sou uma praticante regular de esportes e julgo que isso me traz inúmeros benefícios, principalmente em termos de bem-estar.  E rotineiramente incentivo essa prática aos pacientes durante as minhas consultas.

Mas ao mesmo tempo, sinto que muitas vezes o modo através do qual o exercício físico é “imposto” ou “saudavelmente recomendado” soa um pouco estranho, e para algumas pessoas eventualmente pode gerar um sentimento de culpa ou fracasso. Pois bem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) possui uma recomendação para realização de, em média, 150 a 300 minutos por semana de atividades físicas para adultos e idosos saudáveis, e até mesmo para aqueles com doenças crônicas, guardadas as limitações. Então, como não recomendar para todos ?

Em casa,  tive os dois exemplos. Por um lado, meu pai, que sempre gostou de fazer exercícios de maneira disciplinada. E minha mãe, por outro lado, que nunca sentiu prazer em realizar atividades físicas programadas. Diante dos dois modelos fiquei feliz de herdar o gosto por esportes do meu pai. Mas por muito tempo considerei a minha mãe sedentária, quando na verdade ela se manteve ativa ao longo da vida. Fazendo atividades da casa, cuidando das filhas, subindo escadas, indo a pé para os lugares. Tudo isso é contabilizado no nível de atividade diária do indivíduo. Inclusive, está lá igualmente na recomendação da OMS que toda atividade física conta, fazendo ela parte do trabalho ou lazer.

Meu próprio material de natação 

Portanto, a mensagem por trás dessa recomendação de saúde pública é “ levar uma vida ativa”(=  atividade física), o que não se reflete unicamente em realizar um exercício físico programado ou muito menos um tipo determinado de exercício físico (natação, por exemplo). Falar em termos populacionais também é diferente de pensar em benefícios individuais do exercício, principalmente em relação à qualidade de vida. O que é bom para um, pode não ser bom para outro. Embora a maioria das pessoas já consiga reconhecer que estar em movimento é mais natural do que levar uma vida sedentária, o estímulo e as condições para isso podem ir muito além de uma receita pronta, e rolar um feed do instagram cheio de gente na academia acaba tendo o efeito inverso.

É verdade que nossa vida atualmente não permite muitos momentos de maior gasto energético e acabamos tendo que marcar horário na academia, ou frequentar um clube, ou o que quer que seja para ter aquele determinado período de movimento diário ou quase diário. Mas em muitas situações isso acaba virando um peso a mais na vida da pessoa, ou uma obrigação que quando não cumprida gera um sentimento de falha na rotina já bastante apertada dos tempos modernos. Para realizar exercícios físicos programados é necessário energia, disposição e muitas vezes um investimento financeiro. Exigir que toda essa combinação aconteça independentemente de qualquer variável, quase um sacrifício, também é antinatural. 

Não vou entrar muito no mérito aqui de que existem situações especiais. Uma pessoa com forte predisposição ao ganho de peso, por exemplo, que já tenha passado por um tratamento ou não, idealmente deveria dispor mais tempo de sua rotina semanal para a prática de exercícios físicos. Nessa situação, um profissional de saúde pode dar um norteamento mais específico.

Do contrário, de uma maneira geral, levar uma vida ativa deveria ser uma oportunidade para todos, coletivamente. Individualmente, cada um pode encontrar um equilíbrio dentro daquilo que é possível para si e que lhe faça bem. 


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